Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Infância interrompida

26 de set. de 2015

Infância interrompida

Infância interrompida
As mortes sucessivas que vêm atingindo cidadãos dos países do Oriente Médio e da África vêm horrorizando os habitantes do planeta Terra, mas, não a ponto de mobilizá-los definitivamente contra tanta crueldade.
A foto estampada nos jornais nesses últimos dias da criança síria morta, com o rostinho enterrado nas areias de uma praia turca é, no fundo, o retrato de todos nós - enterrados vivos, cobertos de vergonha.
Ela viajava em uma embarcação precária acompanhada por seus pais e por um irmão. A família tentava fugir da guerra em seu país e de todo os horrores advindos dela.
São imagens que ficam cravadas na nossa memória - tal como a da criança vietnamita nua correndo para o nada após bombardeio aéreo de napalm -, pois trazem à tona a barbárie e a insensatez quando passaportes e fronteiras invalidam a possibilidade de se viver em qualquer país do mundo, no mínimo, com dignidade.
O napalm é um líquido inflável à base de gasolina geleificada. Foi usado no Vietnan para desfolhar a floresta do delta do rio Mekong e desalojar vietcongues. Depois foi lançado diretamente sobre aldeias, onde só havia mulheres e crianças.
Onde estão os tão propalados direitos humanos? Atitudes que contrariam o que apregoam todas as religiões - cujo discurso tanto se distancia da prática.

Fotos como essas escancaram o que há de pior no sistema político-econômico que rege os países ditos desenvolvidos.
Não é possível continuar aceitando que as oitenta e cinco pessoas mais ricas do mundo detenham o mesmo poder aquisitivo dos outros sete bilhões de habitantes da terra juntos. 
Enquanto existir tanta injustiça social e tanta apatia diante do crescente número de desvalidos no mundo, nada acontecerá, a não ser a humilhação que cobre parte da humanidade, esta sim, sensibilizada por rostos enterrados na areia inertes para sempre.
Famílias exterminadas, infância que não se completa, enfim, genocídio consentido por todos nós.
A criança síria morta é o retrato do flagelo humanitário deste início de século.
Cidadãos comuns são expulsos de seus países pelas guerras, pela fome e miséria e passam a vagar pelo mundo, mesmo diante da perspectiva da morte, em busca de uma simples vida de trabalho e de tranquilidade.
Quem sabe tenhamos no futuro um mundo em que todos tenham direito a uma vida digna em qualquer parte do planeta e livres de passaportes ou de fronteiras!

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