Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Em tempos de Laja Jato, por Gabriel Novis Neves

7 de out. de 2015

Em tempos de Laja Jato, por Gabriel Novis Neves

Em tempos de Lava Jato
Laurentino Gomes resgata, em palestra, origens da mistura de público e privado na nossa cultura política. Tentarei fazer um resumo das raízes da corrupção em nosso país.
Quando Dom João VI chegou ao Rio de Janeiro em 1808, recebeu de “presente” para morar uma casa na Quinta da Boa Vista, a melhor da cidade.
O doador foi um traficante de escravos que adquiriu a condição de “melhor amigo do rei”. Como consequência, participou de todos os privilégios da Corte e rapidamente ganhou muito dinheiro, além de títulos de nobreza.
Traficantes de escravos, fazendeiros e senhores de engenho, criaram o regime do “toma lá, dá cá” com o rei, que aqui chegou praticamente falido.
No Brasil colônia, os negócios públicos e privados já se confundiam, mas, com a vinda da corte portuguesa foi instaurada a “caixinha” – com parte do dinheiro desviado – e a distribuição de títulos de nobreza.
D. João VI, em oito anos de Brasil, distribuiu mais títulos de nobreza do que em setecentos anos de monarquia.
O historiador, e meu Reitor Pedro Calmon, uma vez disse que “para ganhar título de nobreza em Portugal eram necessários quinhentos anos, mas, no Brasil bastavam quinhentos contos de réis”.
Ditados populares criticavam a condução dos negócios públicos. Um deles dizia: “Quem rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é barão e quem rouba mais e esconde, passa de barão a visconde”.
O excesso de burocratização do país era para corromper os mais pobres.
Viajantes compravam ouro dos “espertos” brasileiros, que era misturado com pó e contrabandeavam pedras preciosas escondidas dentro das imagens da Igreja Católica para não pagar os altos impostos.
Entretanto, a grande corrupção ficava mesmo por conta de Dom Pedro I, jocosamente chamado de “Caríssimo”, não por ser um prezado monarca, mas numa referência às enormes verbas que a Casa Imperial consumia dos cofres públicos.
Associada a D. Pedro I, Domitila de Castro, a Marquesa de Santos, comandava um poderoso tráfico de influência.
A Casa Imperial de D. Pedro II também tinha grandes verbas para o chamado “Bolsinho do Imperador”.
Pero Vaz de Caminha ao chegar ao Brasil escreveu uma carta ao rei de Portugal, D. Manuel III, e, no final, pede um emprego público para um dos seus sobrinhos, inaugurando assim o nepotismo nesta terra.
Tomé de Souza, que foi o primeiro governador-geral do Brasil, foi um grande tocador de obras e, pode-se dizer que inaugurou o estilo “rouba, mas faz”, pois há provas de desvios de recursos já nessa época.
A corrupção é uma das características do comportamento humano.
Outras sociedades colonizadas por países como Holanda, Inglaterra e França, têm resultados equivalentes nesses aspectos, respeitadas obviamente as particularidades culturais de cada um.

Desde a época da colônia o país vem sendo construído de cima para baixo, sem que a grande maioria da população seja sequer consultada.
Como consequência, hoje o Brasil é um país messiânico, à procura de salvadores da pátria.
Fomos habituados desde sempre a não participar das atividades político-partidárias, já que contamos sempre com o paternalismo do Estado.
Nesse passeio histórico, o mais grave é verificar a falta de prioridade, desde o descobrimento do Brasil, para com a educação.
É bom não esquecer que, quando a corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro, cerca de 90% dos brasileiros eram analfabetos.
Nessa época, a América Espanhola já contava com vinte e duas universidades, enquanto nós aqui na terrinha não possuíamos nenhuma.
Quando entrei na Faculdade Nacional de Medicina, em 1955, o índice de analfabetos ainda era de 50%.
O Brasil nunca teve interesse em formar cidadãos cônscios da sua necessária participação nos processos de construção, respeito às leis e à distribuição de rendas.
Nesse contexto, a operação Lava Jato explica tudo, para surpresa de poucos.

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