Mostre-me um exemplo TRIBUNA DE URUGUAIANA: Finitude, por Gabriel Novis Neves

21 de nov. de 2015

Finitude, por Gabriel Novis Neves


Finitude
O Campus de São Carlos (USP) está desenvolvendo uma substância visando a cura do câncer. 
Essa substância não obteve autorização da ANVISA para ser utilizada em humanos e a pesquisa está parada, dependendo de decisão judicial. 
Entretanto, a sua fórmula, com o princípio ativo do fármaco transformado em pílulas, tem sido utilizada por pacientes da doença maldita, como o imaginário popular se refere ao câncer, com depoimento de doentes e familiares. 
Há notícias e relatos positivos sobre seus efeitos milagrosos aliviando a dor e, em alguns casos, produzindo curas. 
A finitude é o caminho de toda criatura, por isso sua existência é marcada entre o nascimento e a morte. 
Homens e mulheres, sendo mortais e sabedores disso, são atingidos por um profundo temor da morte. 
O humano é o único animal do planeta Terra que sabe que vai morrer, e a morte potencializa o seu sofrimento. Somos seres sofredores e finitos. 
A finitude humana nunca pode ser subestimada como fonte de dores e sofrimentos do mundo. 
Talvez, por isso, sentimos tanto orgulho da eficácia dos antigos e novos medicamentos que nos livram das dores, pois vivemos a era da apologia da total felicidade, muitas vezes, infelizmente, a custa de antidepressivos que nos asseguram a conquista do bem supremo. 
A pior dor é a dor da frustração, que se tornou uma inimiga invisível a rondar como um fantasma todo o nosso inconsciente. 
Na Grécia antiga “pharmacos” era o nome dado ao “bode expiatório” para combater os males do corpo.  
Até hoje tentamos a todo custo expulsar esse “bode” da nossa vida à procura da incurável ferida da finitude. 
A decisão sobre a vida e a morte é hoje uma prerrogativa compartilhada com cientistas, juristas e médicos, numa simbiose digna de ser pensada, pois continuamos finitos. 


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